terça-feira, 13 de março de 2012

A partir de agora, sou blogueiro, Pronto, falei!!!

E de repente o trabalho com a elaboração de aulas me exigiu.
Apesar de resistir, chegou o momento em que a necessidade de praticidade me colocou um obstáculo: ou você cria um blog ou não conseguirá fazer os links necessários para o enfrentamento dos desafios atuais.
A ideia é colocar o material que produzo e utilizo em minhas aulas no 9º ano da Escola de Educação Básica / ESEBA, na Universidade Federal de Uberlândia / UFU.
Também colocarei aqui textos interessantes, de jornal, revistas e links para documentários, mapas, cartotecas, SIGs e tudo o que estiver relacionado com minha prática como professor e pesquisador, nas áreas de Geografia do Turismo e Geografia e Educação.
É isso...
Então, bem-vindo pra mim...

E, pra começar bem, um texto que adoro, de Rubem Alves, sobre a curiosidade que o processo de aprendizagem nos causa...

Boa leitura.


O rio São Francisco no Paraná
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O erro sorridente da aeromoça gentil foi, para mim,
Símbolo do que acontece com a educação
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Rubem Alves
Jornal "Folha de São Paulo", 11/07/1999

            O vôo era de São Paulo para Londrina. Já estava quase chegando. Lá embaixo, um rio serpenteava no meio dos campos. Qual seria? Eu sabia os nomes dos grandes rios de cor e podia localizá-los num mapa virtual na minha cabeça. Mas aquele eu não conhecia. Nisso, a aeromoça passou. Ela fazia aquela viagem quase todo dia, com certeza sabia o nome. Eu a chamei. Ela veio sorridente. "Que rio é aquele?", perguntei. Sem perder o sorriso, ela me respondeu: "Acho que é o rio São Francisco!".
            Meu espanto ficou evidente no meu rosto, embora eu tivesse ficado mudo. Ela percebeu e, embora estivesse quase certa do que me dissera, prontificou-se a procurar confirmação numa autoridade superior. "Vou me certificar com o comandante", disse. Voltou logo a seguir. "Não é o São Francisco", ela me reassegurou. "É o Paranapanema."
            Era uma aeromoça. Para isso, tinha de ter alguma escolaridade -não sei se 1º ou 2º grau. Estudara geografia. Vira o São Francisco nos mapas, rio enorme, que nasce em Minas, na serra da Canastra. (...) Este nasce no meio de Minas e vai para o norte. A gente estava no norte do Paraná. E a aeromoça pensava que aquele era o São Francisco.
            Posso jurar que ela não colou para passar de ano. Ela sabia direitinho os nomes. Sabia também olhar os mapas. Nas provas, marcou certo o rio São Francisco. Na escola, tirou dez. Então, como explicar que ela visse o São Francisco no norte do Paraná? A resposta é simples: não foi ensinado a ela que o mapa, coisa que se faz com símbolos para representar o espaço, só tem sentido se estiver ligado a um espaço que não é símbolo, feito de montanhas, rios de verdade, planícies e mares. Saber um mapa é ver, pelos símbolos, o espaço que ele representa. Pobre aeromoça! Se o avião caísse, ela pensaria que estava caindo ao lado do rio São Francisco e invocaria o santo do mesmo nome.
            (...) As crianças e os adolescentes aprendem símbolos (e bem: com eles passam no vestibular, essa monstruosidade escolar) que não significam nada.
            (...) Que diferença há entre essas coisas que "sei" e o rio São Francisco no Paraná da aeromoça? Se, pelo menos, elas nos dessem prazer! Carrego muitas coisas que não servem para nada, mas são objetos de deleite: poemas, sonatas, biografias, informações. São meus brinquedos. Brinquedo é o nome dos objetos inúteis que dão prazer.
            Mas brincar com tijolos? Só um tolo montaria uma oficina com todas as ferramentas existentes e se dedicaria a aprender seu uso sob a alegação de que talvez algum dia precise delas.
            (...) Muito saber científico é símbolo que não sai do laboratório. Como o rio São Francisco da aeromoça, que não saiu do mapa. Não ilumina nem o mundo nem a vida. Conhecimento que não decifra a vida e não ilumina o mundo não é conhecimento. É enganação. Não importa que tire nota alta no provão.


Rubem Alves, 64, educador, escritor e psicanalista, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). É autor de "Entre a Ciência e a Sapiência: o Dilema da Educação" (Loyola).

2 comentários:

  1. Parabéns André pela iniciativa. Tenho certeza que seu Blog será um ótimo meio de comunicação e divulgação. O layout ficou bonito e de bom gosto. Beijos...

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    1. Obrigado pela visita e pelas boas vindas, Odete.
      Que venham muitos desafios...
      Bjs...

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